(Minha primeira postagem é uma breve descrição da experiência tão inusitada que passei no início deste mês e agradecimentos aos afetos e amores!)




Acordei no sábado com uma terrível dor de barriga, aliás, estava amena, pensei que fossem gazes, tentei voltar a dormir, mas a dorzinha chata não deixava. Tomei dois comprimidos de luftal, chupei limão, tomei buscopan, dei pulos... E nada, parecia que quanto mais remédios eu tomava mais doía.
Fui para UDI com Mariana, fiz milhares de exames, foram localizados dois cálculos renais que já tinham sido constatados antes, mais dessa vez o caso era mais “grave”. Tinha também o apêndice (Mamãe detectou!). Ele estava inflamado, a tomografia “mostrou” alteração no tamanho. Um cirurgião veio a mim e disse: amanhã será feita a cirurgia, às 7 horas da manhã. Nossa não sei o que senti, não fiquei triste porque era algo inédito na minha vida, mas fiquei um tanto assustada. Falei com papai ao telefone e quando ele disse que era para eu não ter medo comecei a chorar, disse que viria amanhã do Arari. Fiquei internada. A cirurgia ocorreu no dia seguinte (domingo), me deram uma anestesia geral e eu apaguei. Quando acordei não sentia dor alguma, somente uma voz dizendo: “Respira Olga, respira”. Comecei a chorar porque queria ver mamãe, queria ir para o quarto. Mas a tal da saturação (“respiração”) estava baixa, por conta disso fui parar na UTI. Levaram-me na “cama” e no caminho encontrei mamãe, Dinda, Mário e meu papai. Explicando, com meu senso comum, durante a cirurgia a secreção foi para os meus pulmões e fiquei com pneumonia. Eu não estava com medo, apenas fiquei um pouco confusa, foi até surpreendente minha reação porque não parei para pensar: “Se estou indo para UTI, alguma coisa de muito errado ocorreu”. E lá eu dormia, dormia e dormia.
Mas também conheci pessoas. E isso é sempre muito bom, ainda mais quando se trata de pessoas tão diferentes do meu cotidiano. Os técnicos de enfermagem são pessoas incríveis. Trabalham tanto, mais tanto e sempre com um sorriso no rosto, uma brincadeira espontânea. Uma, a Noêmia, me deu banho na cama. Que coisa esquisita! Conheci também Sr. Joacy, esse era paciente, fazia todos sorrirem. Um senhor de oitenta e tantos e anos e uma altura de um metro e lá vai pipoca (assim que ele se descrevia para o médico). Além disso, advogado, enfatizou várias vezes.Ele estava lá na verdade porque caiu literalmente de testa no chão.Mas é uma pessoa encantadora.No dia seguinte abriram a cortina que nos “separava” , então conheci o senhorzinho tão engraçado.Franzino e ao mesmo tempo fofo, calmo, e claro, engraçado.Toda hora ele perguntava: “Minha filha não esta com frio?”.Depois que descobriu meu nome, era Olga pra cá, Olga pra lá.A fisioterapeuta chegou para nos levar para caminhar, ele tentou mais ficou tonto e logo sentou.Depois fui eu, caminhei sem problemas e fui logo para a semi – UTI,voltei para dar tchau pra Sr. Joacy e ele perguntou:”Já vai?”. Ficou todo tristonho e disse: “Devagar Olga, não vai cair”. Tadinho, fiquei de coração partido. Mais não é que o danado teve alta muitíssimo antes de mim e foi direto para casa?
Continuei internada dentro de um quarto, cheia de fios ligados a aparelhos e com uma máscara de oxigênio que mais me fazia sufocar. Tentei controlar ao máximo minha inquietação, mas teve um dia que não agüentei, era uma agonia tão grande que minha vontade era de fugir, mas lógico que não fiz isso, hahaha. As visitas vinham, me olhavam, conversavam e depois iam embora, enquanto eu continuava presa naquela cama, naquele quarto, naqueles aparelhos. Parei então para pensar que visitas aos doentes no hospital nem sempre são boas, porque fica bem mais notório algo que parece sutil, a liberdade deles e a prisão de quem fica.Mas a angústia maior foi somente por um dia, nos outros suportei com maior facilidade porque já não precisava da máscara , nem dos montes de fios para medir meus sinais vitais.Todos os dias colhiam meu sangue e algum fisioterapeuta me levava para caminhar e fazer umas nebulizações terríveis,mas deixavam meus pulmões bem melhores. Levei um livro do Mario Benedetti (indicação da minha amiga Greice) e descobri a maravilha de que lá havia internet.Foi só aí que pedi que levassem meu notebook e comecei a descrever “minha cirurgia”. Algumas coisas aqui dentro foram gratificantes para mim, como conhecer além do Sr. Joacy e a Noêmia, outras técnicas de enfermagem, em particular, a Lucilene. Admirável por tão bom humor, SEMPRE, mesmo ante tanto cansaço. Ela estava sempre de lábios pintados, sorrindo e fazendo graça. Na minha primeira noite na semi – UTI foi ela quem dormiu comigo. Foi super atenciosa e cuidadosa, a cada gesto que eu fazia no rosto ela me perguntava se estava tudo bem. Há dias ela não dormia. É jovem, casada e tem um filho de 10 anos. Achei-me tão pequena para não dizer “inútil” olhando todas aquelas mulheres tão trabalhadoras, sofridas, cansadas, no entanto, de alguma maneira, felizes.Eu não faço praticamente nada e reclamo excessivamente, minha vida é um esplendor perto da realidade da maioria daquelas mulheres. Outra percepção foi à marcante hierarquia existente no "meio médico”. Há hierarquia entre os próprios médicos; médicos e enfermeiras; coordenadora das enfermeiras e enfermeiras; enfermeiras e técnicas de enfermagem;técnicas de enfermagem e copeiras... Não penso que seja algo ruim, até porque a hierarquia é inerente a existência de sociedades, mas não concordo, porque da mesma forma que a rotulação, a hierarquia gera a exclusão(sempre há alguma exceção),e no meu ponto de vista, necessitamos de uma sociedade da inclusão.Isso ocorre e pessoas sensacionais se tornam invisíveis, enquanto se o contrário ocorresse, se estas pessoas também tivessem espaço, as realidades seriam bem melhores.Mas sei que a concorrência em todos os campos é imensa e não há espaço para todos,infelizmente.
Agora deixa eu contar da “visita” mais esperada do meu dia:Meu Panda!! Quando ele aparecia à noite eu me sentia bem mais viva, mais presente na minha própria vida, entre afagos, aconchego e carinho. Era o amor bem mais perto. Parecia que nada tinha me ocorrido, que eu não estava enclausurada naquele hospital. Era a presença e o diálogo que eu precisava talvez mais do que tantos antibióticos na veia. Ahh, mas quando ele ia embora era tão dolorido... Voltar a minha inusitada realidade era a pior parte. Logo voltaria a chateação. Mas procurava dormir e apenas pensar que outro dia viria, e que nós SEMPRE existimos!Minha outra grande saudade, que infelizmente não podia me fazer visitas, e era a visita que eu mais necessitava: minha Juju. Ficava imaginando o que ela estaria fazendo com seu tempo, durante todos aqueles dias sem minha presença em casa para lhe dar atenção e carinho. Meu coração ficava apertadinho feito minha bola de pêlos.Mas ela é forte e corajosa.Talvez eu precise mais dela do que ela de mim.Precisava do companheirismo, daqueles olhos verdes atentos a todos os meus movimentos,do lindo focinho rosado, daquelas quatro patinhas me seguindo pela casa, das inúmeras bagunças e brincadeiras, mesmo que as mais chatas, como morder meu calcanhar.Das lambidinhas nos meus pés debaixo da mesa, das patinhas para me acordar no amanhecer, daqueles gestos tão inexplicáveis que só me fazem querer abraçar e apertar muito meu anjinho de pêlo.
Devo lembrar que recebi visitas, ligações, orações e preocupações de amigos como Danny,Sarah,Rafaela, D. Nancy(Obrigada pela leitura do salmo e pelos presentes),Amelie(Adriana),Greice,Cindi,Ana Paula,Débora Castro,Débora Spindola,Mariana... e também dos meus familiares:Mamãe,Papai,Carlos, Dinda, Mário,Luís Carlos,Tia Concinha, Tia Clara(obrigada por vir do Arari e me proporcionar companhia e tantas gargalhadas),Marina,Vera,Tia Simone,Tia Maria de Jesus,Sâmia, Paula,Jane,Ana Cristina,Tia Celeste, Tia Zuza,Vivinha, Tia Maria Muniz,Celsinho, Saulo, Zoza...
Obrigada a todos por cada pensamento bom dirigido a mim, orações, ligações e principalmente, a presença em um momento que “tudo” é ou parece mais difícil. Um especial muito obrigada ao meu tio, pai/padrinho e médico Carlos Macieira e também ao grande médico Tio Chicão, e a todos os outros médicos – cirurgiões que me acompanharam, aos fisioterapeutas, enfermeiras, as doces técnicas de enfermagem pela paciência,nutricionistas,assistente social, copeiras...Obrigada Jesus por não me abandonar nenhum instante.Foram dias difíceis que nunca mais quero passar, porém, inesquecíveis!


10 comentários:

Tuanny Soeiro disse...

Oh Olguita, queria eu poder ter estado ao teu lado nesse instante também. Perdoe minha desinformação... E ainda bem que melhoraste! :) Beijoquinhas

Anônimo disse...

Muito lindo o que vc escreveu, retratrou bem o quanto somos frágeis diante de uma doença ainda mais inesperada e como é importante o apoio do profissional de saúde nessa hora. Isso se chama de humanização, tiveste sorte por encontrar pessoas assim. Que Deus te abençoe sempre.

/Paula

Anônimo disse...

oi-Olga!!
Lindo-e-bem-escrito-relato.
Eu-estou-feliz-que-você-está-bem---e-agora-que-vir-sempre-aqui-ler-os-teus-textos.
Você-escreve-muito-bem!!!
um-beijão,--quero-te-ver-logo!!


Greice

Anônimo disse...

=]
Queremos você sempre bem, Olga.
Firme e forte.
Apesar de eu não ter ido te visitar [na verdade eu até fui, mas não cheguei até lá], quero te dizer que orei por ti.
Ixe... tu nem sabe o quanto me deu um aperto no coração com aquele teu email me contando isso tudo em poucas linhas... nossa...
Mas, enfim, vocês já está bem.
Isso que importa. :)

Beijão!!!

SARAH SOARES

Flávia Brito disse...

Só agora vi sua mensagem do blog...e fiquei triste em não poder estar do teu lado quando precisavas... muito tempo sem falarmos...internet ultimamente só tem servido pra olhar processo...aff...tô sem tempo!!! Mas quero que saibas que vc, Lula e Dona Cece estão sempre em minhas orações e que desejo toda a felicidade do mundo. Ah!! Juju também...e Bia, Leo, mande beijos a todos. Adoro vcs!!! Fica bem.

Rafaela Maioba disse...

Olga!!! O mais importante é q estas bem!!!
"Vendendo" saúde...
Todas as ligações e visita foram feitas com muito carinho!!!
Em resumo: sempre existe algo bom, mesmo nas situações mais difíceis e inusitadas. Uma lição ou mesmo lições, lição de vida e superação.

Bjoks*** da Rafa

gonguinho disse...

olga, minha querida, n sei nem oq escrever...como é ruim saber q alguém q se quer tão bem passou por uma situação tão turbulenta e eu nem sequer fikei ciente..mas como fiquei sabendo hj, vc já estando em sua casa e com a saúde restituída fico feliz imensamente e agradeço a Deus por ter intercedido nesse momento difícil q só quem sabe é quem já passou. Lendo seu depoimento percebí o quanto deve ter sido horrível (creio q n existam outras palavras) a sensação de solidão e frieza de uma cama de hospital, no entanto Deus é tão grandioso que colocou ao teu redor anjos que te ergueram de sofrer n somente o físico, mas tbm o emocional..fico feliz em saber o quão querida vc é! as tuas visitas! DIsso eu sempre soube a pessoa ótima q vc é e isso só aproxima....O bem atrai o BEM..=)
vc sabe o carinho q sinto por vc! vc marcou mt a minha vida! aprendi mt ctg! vivi momentos únicos! q só vc e eu sabemos!..quero dizer q sinto sua falta! te adoro marida!..(ja devo ter perdido o posto) rs...=**

Marta Hary disse...

Olga, como somos frágeis...
Não soube de nada do que aconteceu contigo, se soubesse com certeza teria entrado em contato, feito visitas, rezado... Mas enfim, que bom que estás bem novamente.
Qualquer hora dessa vou te dar um abraço e um beijão.
Beijos, felicidades. Tô com saudades.

Anônimo disse...

Muito legal a sua história, mas o mais legal é saber que você reconhece que Jesus nao tem abandona momento algum.
Bjos
Isa Paz
=**

Érico Cordeiro disse...

Olga,
Seja bem-vinda à blogsfera.
Vi teu comentário no jazzseen e tomei a liberdade de fazer-lhe uma visita.
Após a surpresa de descobrir um texto maravilhoso, veio a surpresa de descobrir que você é maranhense e, mais surpreendente ainda, é da família de grandes amigos meus.
Prá você ter uma idéia, a minha avó era muito amiga da dona Zoca, minha mãe é amiga de Simone, Roberto, Chicão, Fátima, enfim, deles todos, e eu sou amigo de infância de Carlinhos e Marinho (não consigo chamá-los de Carlos e Mário).
Bom, parabéns pelo texto - uma verve afiada e sensível, de uma observadora arguta e bem humorada.
Bacana que gostes de jazz e aproveito para convidá-la (e aos sseus leitores) a conhecer o blog JAZZ + BOSSA + BARATOS OUTROS, dedicado à música (com ênfase, obviamente, no jazz e na bossa nova). O endereço é:

www.ericocordeiro.blogspot.com

Um fraterno abraço e que venham mais textos, poemas, crônicas, letras de música, confissões, desabafos, memórias...

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